quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Honduras pós-golpe: mais pobreza, repressão policial e violência


Antes do golpe, Ángel David já morava aqui, nesta colônia, onde o único espaço verde e horizontal é o cemitério, por isso as crianças aproveitam um buraco na cerca para jogar futebol ou brincar de esconder entre os túmulos de seus avós. O panorama de Ángel David não era muito animador.


Dividia os 8 metros quadrados de um barraco de madeira com seu pai, jardineiro desempregado, sua mãe, recém-grávida de seu quinto filho, e seus irmãos, o maior de 16 anos e o menor de 2. Não tinham banheiro, porque o último temporal o levou morro abaixo, mas sim eletricidade e telefone, boa educação e roupa milagrosamente limpa.



Mas veio o golpe e a vida de Ángel David, que já não era boa, começou a piorar. Seu país, o segundo mais pobre da América Latina, começou a receber sanções da comunidade internacional e seus 70% de pobres (40% sobrevivem com menos de US$ 1 por dia) foram ficando ainda mais desamparados.



O pai de Ángel David tinha cada vez menos trabalho. Sua mãe, menos dinheiro para fazer malabarismos. Ele, menos horas de aula. Como se fosse pouco, os dias em que o governo de Roberto Micheletti decretou o toque de recolher todos tinham de sair correndo por medo da polícia. Todos os dias chegaram em casa a tempo, menos em 21 de setembro.



Naquele dia havia-se espalhado por Honduras o rumor de que o presidente Manuel Zelaya tinha conseguido voltar ao país em segredo. Para comemorar, seus partidários convocaram concentrações em diversas áreas de Tegucigalpa, e o pai de Ángel David decidiu participar na colônia 21 de Fevereiro, vizinha a sua.



Ao voltar para casa, soado o toque de recolher, encurtaram caminho por um beco. Assustaram-se com o ruído de uma moto que se aproximava. Olharam para trás. Dois policiais vinham na moto. O de trás apontou para eles. Escutaram-se cinco disparos. Ángel David, de 13 anos, caiu redondo no chão com um tiro nas costas.



Passou um mês e meio. O taxista entra pela colônia 23 de Junho. O veículo mal pode avançar entre as pedras - a única rua asfaltada ficou para trás há tempo - e o medo que lhe causam os grupos de rapazes encostados nas esquinas. Há um momento em que não se pode continuar de carro. A mãe, Nelly Rodríguez, convida para entrar em seu único quarto, arrumado e limpo, e apresenta orgulhosa seus filhos, educados e bem vestidos.



Seu relato do que aconteceu é exato e conciso, e nele aparece sem maquiagem a realidade de Honduras depois do golpe: "Meu marido e meus filhos vinham andando lentamente e os policiais puderam ver que havia duas crianças, mas mesmo assim lhes atiraram pelas costas. A bala acertou os intestinos, o cólon, o baço, o fígado e também parte do pulmão. Mostre a cicatriz ao senhor..."



Ángel David levanta-se, obediente. Tem a marca do tiro nas costas e a grande cicatriz da operação. O que você sentiu nesse momento? "Angústia, senhor." E dor? "Também." E você perdeu os sentidos? "Sim." Como é a angústia? "Pensar que vai morrer." E sentiu medo? "Sim." E chorou? "Não."



Nelly continua contando: "O operaram de emergência. Esteve perto de morrer. A operação durou três horas e ele passou cinco dias em coma. Até que começou a abrir os olhos e a falar comigo. Esteve com oxigênio e com vários remédios que lhe deram no Hospital Escola. Mas como não tinham todos os medicamentos de que ele necessitava tivemos de comprar. Não havia agulhas nem esparadrapo nem algodão. Nem soro.".



O que vem a seguir demonstra até que ponto os protagonistas do golpe perseguiram os resistentes: "Um dia veio uma fiscal e me disse: 'Olhe, eu sou representante do direito do menor e a senhora corre o risco de perder seus filhos, porque o culpado pelo que aconteceu com seu filho não é o policial que disparou, mas a senhora'. Me disse que a culpada era eu".



Nelly começa a chorar, um pranto lento e silencioso que comove. As crianças ao seu redor prestam atenção. "E me disse quando meu filho estava em coma, ali mesmo diante da cama dele. Sim. Me disse que o policial não era culpado, mas eu..." Nelly foi ameaçada de não ter seu filho de volta até que a organização Cofadeh, que cuida dos familiares dos detidos e dos desaparecidos em Honduras, veio protegê-la.



A história de Ángel David é uma das centenas de casos dramáticos. Segundo a Unicef, "1.700 crianças hondurenhas menores de 5 anos morreram desde 28 de junho de 2009, à razão de 13 crianças por dia". A desnutrição e o péssimo atendimento de saúde contra epidemias como a da dengue hemorrágica são algumas das causas. Todos os dias cerca de 60 crianças ingressam no hospital de Tegucigalpa atingidas por essa doença. Mas não há como atendê-las por falta de meios. Tudo isso em meio a uma onda de violência que deixa 14 mortos por dia e inúmeras detenções ilegais.



É verdade que a vida em Honduras não era boa antes do golpe, mas agora é pior. Não é verdade, Ángel David?

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Renovado e ampliado, novo Comitê Central do PCdoB tem 105 membros


O 12º Congresso Nacional do PCdoB foi encerrado neste domingo (8), em São Paulo, com a eleição do novo Comitê Central do Partido, que irá dirigir a legenda até o próximo Congresso, em 2013. A nominata de 101 nomes apresentada aos delegados no início do encontro foi acrescida de mais quatro nomes, e aprovada por ampla maioria. Assim, a nova composição do CC aumenta dos atuais 81 membros para 105. Diversos critérios de composição ajudaram a injetar sangue novo na nova direção comunista.


Maurício Morais



Renato Rabelo, junto com os integrantes do novo Comitê Central, encerra o 12 Congresso do PCdoB

Os critérios de composição do Comitê Central obedeceram aos seguintes obejetivos: manter e se possivel aumentar o número de trabalhadores sindicalistas dado o caráter proletario dos membros do partido; incorporar trabalhadores do campo; agregar mais jovens, sobretudo de 20 a 30 anos, contribuindo para dimnuir a média etária dos membros do Comitê Central; incorporar mais mulheres, adotando a cota mínima de 30%; incluir quadros mais atuantes na luta de idéias, cientistas, artistas, acadêmicos; ampliar, tanto quanto possível, a presença de presidentes estaduais do Partido e, por fim, conferir a integrantes de comissões a autoridade de membro do CC.



Segundo o secretário nacional de Organização do PCdoB, Walter Sorrentino, que coordenou a comissão eleitoral, o critério que amarra todos os demais critérios é o papel a cumprir no contexto coletivo. "Nenhum comitê central é composto por ranking de capacidade, não é este nosso critério, mas sim o da contribuição que cada integrante dará para a construção de uma direção que tem o desafio de preparar o partido para as novas e importantes tarefas que os comunistas têm pela frente", disse Walter ao paresentar a sugestão de nominata.



Participaram da escolha do novo Comitê Central 868 delegados, dos 954 que foram credenciados. A votação aconteceu através de um sistema eletrônico (foto ao lado) que tornou bastante ágil e descomplicada a eleição. Antes do processo de votação final, foi aberta aos delegados uma consulta para que pudessem indicar outros nomes além dos que constavam da nominata original. Fruto deste processo, foram incluídos na nominata os nomes de Wander Geraldo, Leila Márcia, David Wylkerson e Chico Lopes, que passaram a integrar a lista de 105 nomes eleita pelos delegados. Outros quatro nomes (Dilcea Quintela, Gilmar Tadeu, Ronaldo Carmona e Luis Carlos Paes) faziam parte de uma lista suplementar, mas não alcançaram votos suficientes para ingressar no novo CC. Os 105 membros eleitos obtiveram apla aprovação, obtendo de 100% a 95% dos votos dos delegados. Dos 868 votantes, 650 concordaram integralmente com a proposta apresentada pela comissão eleitoral e 208 delegados fizeram algum tipo de substituição na nominata. Apenas 10 votos (1,15% do total) foram anulados por não cumprirem o critério de incluir pelo menos 30% de mulheres na nominata.



Comissão Política



Logo após a eleição do novo CC, os membros eleitos reuniram-se para definir quem irá compor a Comissão Política do Partido, composta por 26 integrantes, três a mais que a antiga composição. Quanto ao Secretariado, ficou de ser composto mais tarde, em uma reunião da Comissão Política, dia 11, e outra do Comitê Central. A indicação é de um Secretariado de sete membros, visando reforçar cada vez mais o papel da Comissão na condução política do partido.



Também foi decidida a indicação de Renato Rabelo para continuar à frente da presidência do Partido no próximo período. Renato anunciou que aceitava mais um mandato, o terceiro como presidente do PCdoB. Mas pediu a permissão do CC para proceder, no momento oportuno, os preparativos para a escolha de um companheiro que assuma o cargo no próximo Congresso, em 2013.



Foi feita também a proposta de Luciana Santos para vice-presidente do partido. A secretária de Ciência e Tecnologia de Pernambuco e ex-prefeita de Olinda foi anunciada por Renato Rabelo como "futura deputada federal e uma das mais votadas no estado". O nome foi recebido com aplausos pelos 105 membros do CC recém-eleito.



Após a reunião do CC, aconteceu o ato político de encerramento. com o anúncio da nova direção e o pronunciamento final de Renato Rabelo, foi declarado encerrado oficialmente o 12º Congresso Nacional do PCdoB, o maior da história do Partido. Como sempre acontece nos eventos partidários, o encerramento deu-se ao som da Internacional e num clima de grande confraternização que irá marcar o 12º Congresso como um dos encontros mais bem sucedidos do Partido Comunista do Brasil.



Veja abaixo a composição do novo Comitê Central

(Os nomes marcados com # são de novos integrantes do CC)



1.. Adalberto Frasson

2.. Adalberto Monteiro

3.. Alanir Cardoso

4.. Aldo Arantes

5.. Aldo Rebelo

6.. # Alice Mazzuco Portugal

7.. Altamiro Borges

8.. # Ana Maria Prestes Rabelo

9.. Ana Rocha

10.. André Bezerra

11.. # Andre Pereira Reinert Tokarski

12.. Andréia Diniz

13.. # Ângela Albino

14.. # Antenor Roberto S. de Medeiros

15.. Assis Melo

16.. Augusto Buonicore

17.. # Augusto Canizela Chagas

18.. # Augusto Madeira

19.. Aurino Nascimento

20.. # Bartíria Perpétua Lima da Costa

21.. Bernardo Joffily

22.. # Biga - Dilce Abgail Rodrigues Pereira

23.. Caetano, Aldemir de Carvalho

24.. Carlos Augusto Diógenes (Patinhas)

25.. # Cláudio Silva Bastos

26.. # Chico Lopes

27.. Daniel Almeida

28.. # Daniele Costa Silva

29.. # Davidson de Magalhães Santos

30.. David Wylkerson

31.. Dilermando Toni

32.. Divanilton Pereira

33.. Edilon Melo de Queirós

34.. Edmilson Valentim

35.. # Edson Luis de França

36.. # Eduardo Bonfim Gomes Ribeiro

37.. Edvaldo Magalhães

38.. Edvaldo Nogueira

39.. Eron Bezerra

40.. # Evandro Costa Milhomem

41.. # Fabiana de Souza Costa

42.. # Flávio Dino de Castro e Costa

43.. # Gerson Pinheiro de Souza

44.. Gustavo Petta

45.. Haroldo Lima

46.. Inácio Arruda

47.. Jamil Murad

48.. Jandira Feghali

49.. Javier Alfaya

50.. Jô Moraes

51.. João Batista Lemos

52.. José Reinaldo Carvalho

53.. Julia Roland

54.. # Julieta Palmeira

55.. Julio Vellozo

56.. Leila Márcia

57.. Liège Rocha

58.. # Lucia Kluck Stumpf

59.. Luciana Santos

60.. Luciano Siqueira

61.. Luis Carlos Orro

62.. Luiz Fernandes

63.. Madalena Guasco

64.. # Manoel Carlos Neri da Silva

65.. Manoel Rangel

66.. Manuela D’Ávila

67.. Marcelino Granja

68.. Marcelo Brito

69.. # Marcelo Cláudio César Cardia

70.. Marcelo Toledo

71.. # Maria de Lourdes Carvalho Rufino

72.. # Marta Brandão da Silva

73.. Maurício Ramos

74.. Milton Alves

75.. Nádia Campeão

76.. Nereide Saviani

77.. # Neuton Miranda Sobrinho

78.. Nivaldo Santana

79.. # Olival Freire Jr

80.. Olívia Santana

81.. Orlando Silva Júnior

82.. Osmar Júnior

83.. Péricles de Souza

84.. Perpétua Almeida

85.. # Raimunda Leone de Jesus

86.. # Renata Lemos Petta

87.. Renato Rabelo

88.. Renildo Calheiros

89.. Renildo de Souza

90.. Ricardo Abreu (Alemão)

91.. # Romário Galvão Maia

92.. Ronald Freitas

93.. Sérgio Barroso

94.. Socorro Gomes

95.. # Tânia Soares de Souza

96.. # Thiago de Andrade Pinto

97.. # Valéria Conceição da Silva

98.. Vanessa Grazziotin

99.. # Vanja Andrea Reis dos Santos

100.. Vital Nolasco

101.. Wadson Ribeiro

102.. Wagner Gomes

103.. Walter Sorrentino

104.. Wander Geraldo

105.. Zito Vieira





A Comissão Política ficou com a seguinte composição:

(nomes em ordem alfabética)



1.Adalberto Monteiro

2.Adalberto Frasson

3.Aldo Arantes

4.Aldo Rebelo

5.Altamiro Borges

6.Ana Rocha

7.Carlos Augusto Diógenes (Patinhas)

8.Daniel Almeida

9.Flávio Dino

10.Haroldo Lima

11.Inácio Arruda

12.Jô Moraes

13.João Batista Lemos

14.José Reinaldo de Carvalho

15.Julio Vellozzo

16.Liége Rocha

17.Luciana Santos

18.Nádia Campeão

19.Orlando Silva

20.Renato Rabelo

21.Renildo Calheiros

22.Ricardo Abreu (Alemão)

23.Vanessa Grazziotin

24.Vital Nolasco

25.Wagner Gomes

26.Walter Sorrentino



Da redação no Anhembi,

Cláudio Gonzalez

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Povo brasileiro é o grande homenageado do 12º Congresso do PCdoB



Teve início na noite desta quinta-feira (5) o maior congresso da história do PCdoB. O povo brasileiro – representado em sua diversidade na mesa do plenário por negros, índios e brancos – foi o escolhido como homenageado dos comunistas. O ponto alto da noite foi a intervenção do presidente Renato Rabelo. Quarenta e nove delegações de 32 países estavam presentes.






Congresso começou hoje em São Paulo com homenagem ao povo

Até o momento, 80% dos delegados de todo país se encontram no Congresso. Com o plenário do Anhembi cheio, foram aprovadas a mesa diretora dos trabalhos, a proposta de regimento interno e as comissões de Organização e Eleitoral.



A homenagem aos brasileiros – estampada no palco nas figuras de Tiradentes e José Bonifácio – foi feita ao final da sessão pelo deputado federal Aldo Rebelo. “O povo brasileiro fez-se povo e constituiu esta nação tão admirada sem renunciar a nenhum sacrifício na sua trajetória, enfrentando desde os seus primeiros habitantes a violência do projeto colonial”.



Segundo Aldo, “se fomos vítimas do processo cruel e injusto pelo qual caminha, caminhou e por um tempo ainda caminhará, o povo não se submeteu a esse processo, não aceitou a posição de vítima e se assumiu como protagonista”. E continuou: “se hoje podemos ter um líder operário e nordestino mesmo com o preconceito das elites é porque se sustentou sobre os ombros de nosso povo que construiu uma história política e nos movimentos sociais”.



Por fim, afirmou: “a maior homenagem que podemos render ao nosso povo é jurar que continuaremos lutando por sua unidade e contra sua divisão. O povo é o maior patrimônio de nosso país e essa é a nossa forma de amar o povo brasileiro: tornar nosso país cada vez mais um projeto civilizatório”.



Informe político



Ao iniciar seu informe político, o presidente do PCdoB, Renato Rabelo constatou: “atravessamos um período histórico insólito – que vai chegando ao limite de um tempo e que pode irromper o limiar da transição para uma nova época civilizatória”. Segundo ele, “o desfecho que tomará essa transição para uma nova época, com o aprofundamento e aguçamento da crise do capitalismo, resultará do rumo e do desenlace que prevalecerá no curso da luta ideológica e política contemporânea, que na atualidade converge, explícita ou implicitamente, no embate por uma alternativa, por objetivos a serem perseguidos e caminhos a serem seguidos”.



Para que tal rumo seja alcançado, um novo Programa Socialista se faz necessário. A nova proposta “delineia a exigência profunda do tempo atual: um terceiro grande salto civilizatório afirmativo da Nação brasileira, que só é possível com a transição para o socialismo, inserindo dessa maneira a revolução brasileira na dinâmica concreta da história nacional”. Mas, colocou, “não estão presentes na atualidade no Brasil, as condições políticas para a conquista imediata do socialismo. É preciso percorrer então um caminho que nos leve a esse objetivo maior.”



O caminho, conforme enfatizou, “é a luta desde agora pelo delineamento e execução de um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento, destinado a começar a superação das principais contradições e impasses acumulados no decorrer da trajetória do país, sendo este o caminho brasileiro para o socialismo”.



Em ligação com a realidade atual do país, Rabelo passou a tratar da importância do governo Lula no contexto nacional e internacional para o alcance de um novo patamar de desenvolvimento no país. Por isso, foi contundente: “o ciclo político aberto a partir da eleição presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva não pode ser truncado nas eleições de 2010” e disse que Lula “goza hoje de incomparável prestígio popular, assumindo uma posição de destaque entre os maiores líderes nacionais na história política brasileira”.



De acordo com o comunista, “a história política do Brasil demonstra que quando se impõe uma liderança capaz de unir a maioria da nação, o país pode avançar em grandes empreendimentos, descortinando novos horizontes para o povo”.



Resistência da direita



Sobre o posicionamento dos setores conservadores, Renato Rabelo lembrou que apoiada pelo monopólio midiático, a oposição tem tentado, a todo custo, enfraquecer e derrubar o governo Lula. “O PCdoB não entrou no ‘cordão dos desiludidos’ que acabou sem alternativa política, e tacitamente reforçando o campo oposicionista de direita”, afirmou.



Mesmo sendo aliado histórico do PT e um dos partidos da base de apoio do governo, Rabelo salientou que “o PCdoB não confunde o seu programa com o programa da aliança política. Igualmente, o Partido recusa o ‘seguidismo’ e preserva sua independência em relação ao governo. Lealdade não significa abdicar dessa condição”.



No campo oposto, o presidente destacou a dificuldade de a direita se impor mesmo quando o assunto é a eleição de 2010. Como exemplo, colocou o papel do PSDB – principal legenda do campo conservador – que tem buscado a construção de uma candidatura forte, mas que ainda se encontra dividido entre adotar um ou outro governador tucano.



Além disso, Rabelo colocou que “a existência de mais de uma candidatura no campo lulista tenderá a ser efêmera sem o seu apoio. A candidatura de Marina Silva, pelo PV, terá mais influência em setores das camadas médias, podendo subtrair votos nos dois lados, sem alcançar a dimensão de uma terceira via.



Brasil com destaque no mundo



Ao tratar do contexto internacional, Renato Rabelo enfatizou que “a crise global do capitalismo de vastas proporções exprimiu com maior agudeza a tendência de declínio gradual e progressivo do imperialismo norte-americano, ao mesmo tempo em que acentua a emergência de China, Rússia, Brasil e Índia, o surgimento de blocos regionais não alinhados e contradições interimperialistas”. Cresce, neste sentido, a luta dos trabalhadores e dos povos por melhores condições de vida.



No quadro de um mundo em transição e para lidar de maneira adequada com os desafios atuais, Rabelo disse que “é interesse do povo brasileiro que se avance para uma América Latina unida e integrada. Para o Brasil, a integração continental é base para sua inserção no mundo. E em conseqüência da sua dimensão política e econômica – hoje com maior influência no concerto das nações e como parte constitutiva dos seus interesses nacionais – o Brasil vai ocupando um importante papel protagonista na união sul e latino-americana”.



No que tange aos interesses imperialistas no continente latinoamericano, Rabelo chamou atenção para as riquezas nacionais, especialmente após a descoberta do petróleo na camada do pré-sal. Criticou a presença da Quarta Frota na costa na região e o acordo militar entre Colômbia e EUA como sinais preocupantes dessa ação. “É preciso ter em conta – como elemento geopolítico fundamental na luta por um projeto nacional de desenvolvimento – que a América Latina é área chave do interesse dos países imperialistas. Há uma disputa entre eles que tende a se agudizar pelo controle de fontes de recursos nos países ‘periféricos’”. E completou dizendo “merecer total apoio a proposta de novo marco regulatório do pré-sal defendida pelo governo”.



Continuidade em 2010



Renato Rabelo voltou a tratar do quadro eleitoral de 2010 reafirmando que o PCdoB considera “uma exigência política para o êxito do campo democrático e progressista a aliança básica entre os dois partidos mais votados nas últimas eleições, PT e PMDB”. E completou: “quanto mais a eleição presidencial de 2010 se concentrar na forma de plebiscito, de polarização a favor ou contra o ideário e as realizações de Lula, maiores são as chances de vitória da candidatura sustentada pelo presidente”.



No que diz respeito ao projeto dos comunistas, a prioridade está na renovação do Congresso Nacional. “O partido procurará eleger uma bancada mais numerosa de deputados federais que permita elevar o nível de intervenção partidária nacional a um patamar superior. Também, é possível ampliar a bancada comunista no Senado Federal e até disputar a eleição para governador de Estado”, afirmou numa referência ao nome do deputado federal Flávio Dino, que poderá disputar a cadeira no Maranhão.



A fim de alavancar ao poder as forças progressistas e de esquerda para as próximas eleições, chamou atenção para a importância da convocação de uma Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat) no próximo ano.



Terminando sua intervenção, falou sobre a vida partidária, destacando que “os importantes êxitos conseguidos não devem escamotear os nossos erros e insuficiências, sendo imprescindível constatar os ensinamentos numa atitude aberta e franca tendo no comando o êxito político e a edificação de um partido revolucionário profundamente vinculado ao povo e por ele respeitado”.



No ano em que muitos comemoram os 20 anos do fim da União Soviética, Renato Rabelo lembrou da comemoração dos 90 anos da Revolução Russa dizendo que “somos os seus continuadores para a nossa época. Somos integrantes da corrente marxista, revolucionária, mundial, aqui representada pelos queridos camaradas das delegações dos partidos comunistas e revolucionários do mundo inteiro. Mais uma vez reafirmamos: não percamos de vista o nosso grandioso ideal socialista. Estamos convencidos mais ainda de que o tempo nos dará razão”.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Fidel Castro classifica de atroz acordo Colômbia-EUA


O líder da Revolução cubana e ex-presidente da ilha, Fidel Castro, classificou, nesta quarta-feira (04), de atroz e infame o recente acordo que permite aos militares americanos usar bases na Colômbia, convênio considerado por Fidel uma ameaça à América Latina. Segundo o cubano, nunca a região foi tratada com tanto desprezo, como atualmente, na gestão norte-americana de Barack Obama.
Em uma nova publicação na coluna "Reflexões", o líder cubano lamentou a assinatura do acordo porque os "Estados Unidos impõem sete bases militares no coração da América, ameaçando não só à Venezuela, mas todos os povos do Centro e do Sul do hemisfério".Ele destacou que "não se trata de um ato do governo de [George W.] Bush, é Barack Obama que assina esse acordo, violando normas legais, constitucionais e éticas", disse, completando: "Nunca os países latino-americanos foram tratados com tanto desprezo", afirmou."Como pretexto, ele utilizou a luta contra o comércio de drogas que, como o terrível flagelo do para-militarismo, surgiu do gigantesco mercado americano de cocaína e de outras drogas (...) As bases militares ianques na América Latina surgiram antes que as drogas, com fins intervencionistas", afirmou o ex-líder de 83 anos, em um texto em que critica ainda as penas aplicadas ao anti-terroristas cubanos, pesos injustamente nos EUA. Veja abaixo a íntegra do artigo:
A melhor homenagem à mãe de um heroiPor Fidel castroOntem, faleceu Carmen Nordelo Tejera, a abnegada mãe do Herói da República de Cuba, Gerardo Hernández Nordelo, injustamente sancionado a duas penas de prisão perpétua e mais 15 anos de cárcere. O insólito é que, há apenas 12 dias, a justiça ianque pôs em liberdade Santiago Álvarez Fernández-Magriñá, de quem foram apreendidas armas de guerra, explosivos e outros meios destinados aos planos terroristas contra o nosso povo.Tratava-se de armas apreendidas desse agente da CIA que, a serviço do governo dos Estados Unidos, dedicou boa parte da sua vida ao terrorismo contra Cuba. Valeria a pena que os assessores de Barack Obama, que tanto difundem os seus discursos pela televisão, solicitassem e lhe mostrassem uma cópia do vídeo da Mesa-Redonda do canal Cubavisión, onde se tratou da ridícula sanção de quatro anos numa penitenciária de mínima segurança aplicada a Santiago Álvarez pelas armas apreendidas. E o pior foi que lhe diminuíram a sentença, após entregar à Procuradoria norte-americana outro arsenal de armas maior que o anterior. O sujeito, além disso, enviou um grupo que se infiltrou em Cuba, ao qual, entre outras ações, encomendou uma explosão no Cabaré Tropicana, sempre repleto de espectadores. Existe prova documental irrebatível dessa instrução. Com outro terrorista de origem cubana, Roberto Ferro, aliado à máfia terrorista de Posada Carriles e Santiago Álvarez, em julho de 1991, foram apreendidas 300 armas de fogo, detonadores e explosivos plásticos. Foi sancionado a dois anos. Em abril de 2006, foram apreendidas, em compartimentos ocultos da sua casa, 1.571 armas e granadas de mão. Foi condenado a cinco anos de prisão.Nunca será bastante o que se diga sobre o cinismo da política dos Estados Unidos, que incluem Cuba na lista de países terroristas, aplicam exclusivamente à nossa nação a assassina Lei de Ajuste Cubano, e a bloqueia economicamente, proibindo mesmo a venda de equipamentos médicos e medicamentos.Ontem, a Mesa-Redonda da televisão, ao passo que enumerava os crimes de Santiago Álvarez, mostrava programas de televisão de Miami onde um conhecido agente dos Estados Unidos, Antonio Veciana, narrava os planos com explosivos e balas para o assassinato de líderes cubanos, entre os quais, o de Camilo e o de Che - que estavam comigo num ato do qual participavam centenas de milhares de pessoas em frente do antigo Palácio Presidencial -, ou o meu assassinato, numa entrevista coletiva no Chile, quando visitei o presidente Salvador Allende. Afinal de contas, como confessa o mercenário, no momento da ação, os assassinos a serviço da CIA se acovardaram nas duas ocasiões. Tratava-se apenas de dois dos tantos planos de magnicídio do governo desse país.Tais malfeitorias podem ser lembradas com sangue frio, a não ser que, como neste caso, a narração coincida com a notícia da morte, após uma longa doença, de uma mãe honesta e valente como Carmen Nordelo Tejera, cujo filho foi injustamente condenado a duas penas de prisão perpétua mais 15 anos de cárcere isolado e cruel e numa penitenciária de alta segurança. Que dor mais profunda podia existir para ela que a injusta prisão perpétua do seu filho por delitos que nunca cometeu?Não é possível colocar uma flor no seu féretro sem denunciar, mais uma vez, o repugnante cinismo do império.Acrescenta-se a isto outra notícia atroz escutada nessa mesma tarde: a assinatura oficial do acordo, em virtude do qual, os Estados Unidos impõem sete bases militares no coração da Nossa América, com as que ameaça não apenas a Venezuela, mas também todos os povos do Centro e do Sul do nosso hemisfério. Não se trata de um ato do governo de Bush; é Barack Obama quem assinou esse acordo, violando normas legais, constitucionais e éticas, quando ainda os frutos da funesta base militar ianque de Palmerola, em Honduras, são exibidos perante o mundo. O golpe militar nesse país centro-americano foi levado a cabo sob a atual administração.Nunca se tratou com maior desprezo os povos latino-americanos deste hemisfério.Um país como Cuba sabe muito bem que, depois que os Estados Unidos impõem uma das suas bases militares, só vão embora quando quiserem, ou permanecem pela força, como fizeram em Guantânamo há mais de cem anos. Ali erigiram o odioso centro de torturas, cujas masmorras, com numerosos presos, o nosso flamejante Prêmio Nobel ainda não conseguiu eliminar. À devolução de Manta no Equador seguiu de imediato a oficialização das sete bases militares impostas ao povo da Colômbia. O pretexto utilizado: a luta contra o comércio de drogas que, como o terrível flagelo do paramilitarismo, surgiu do gigantesco mercado norte-americano de cocaína e outras drogas. As bases militares ianques na América Latina surgiram muito antes que as drogas, com fins intervencionistas. Cuba demonstrou durante meio século que é possível lutar e resistir. O presidente dos Estados Unidos se engana e os seus assessores também, se continuam nesse caminho sórdido e perjorativo contra os povos da América Latina. Os nossos sentimentos, sem sombra de dúvida, inclinam-se para o povo bolivariano da Venezuela, para o seu presidente Hugo Chávez e para o seu ministro das Relações Exteriores, denunciando o pacto militar infame imposto ao povo colombiano, cujas cláusulas expansionistas os seus autores nem sequer tiveram o valor de publicar. Cuba continuará cooperando com os programas da saúde, educação e desenvolvimento social dos países irmãos que, apesar de obstáculos, avanços e retrocessos, serão cada vez mais irredutivelmente livres. Como afirmou Lincoln: "… não se pode enganar todo o povo o tempo todo." Não apenas colocaremos flores no túmulo de Carmen Nordelo. Continuaremos incansavelmente a luta pela liberdade de Gerardo, Antonio, Fernando, Ramón e René, desmascarando a infinita hipocrisia e o cinismo do império, defendendo a verdade!Apenas assim, honraremos a memória da legião de mães e mulheres como ela, que, em Cuba, sacrificaram o melhor e mais prezado da sua vida pela Revolução e pelo Socialismo.Fidel Castro

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Venezuela fecha passagem à Colômbia após morte de militares


A Venezuela anunciou o fechamento parcial e por tempo indefinido da fronteira com a Colômbia, após o anúncio de que dois militares venezuelanos foram assassinados no posto de controle de Palotal, entre os municípios de Ureña e San Antonio, no estado venezuelano de Táchira. As duas mortes ocorreram dias depois que oito jogadores de futebol de um time amador colombiano foram executados no lado venezuelano, na mesma região. Segundo a guarda venezuelana, quatro homens em motocicletas chegaram na tarde de ontem (2) ao local e dispararam contra os militares. Houve perseguição, mas os assassinos não puderam ser capturados. Horas depois, o governo venezuelano anunciou o fechamento da passagem. As mortes recentes na fronteira têm piorado ainda mais as já complicadas relações entre os dois países. Nos últimos dias a Venezuela acusou a Colômbia de espionagem em seu território, prendendo dois agentes colombianos e o presidente venezuelano, Hugo Chávez, criticou a assinatura na semana passada do acordo militar entre a Colômbia e os Estados Unidos, também condenado pela maioria da comunidade latino-americana. O ministro de Relações Exteriores da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou ontem em uma coletiva de imprensa que o acordo militar é "uma vergonha para a história do nosso continente". Maduro disse que o governo e o partido governista propuseram medidas "para continuar a denunciar estes ares bélicos que o Pentágono alimenta, não sejam impostos à Colômbia a partir do governo de Bogotá e continuem ameaçando a estabilidade da região". Medo O comércio na região fronteiriça sofre com a violência registrada desde a semana passada. De acordo com o jornal El Tiempo, na sexta-feira (30) e no final de semana dezenas de comerciantes decidiram interromper os negócios após panfletos terem sido distribuídos por grupos paramilitares na capital do estado, San Cristóbal. Algumas escolas da região fecharam as portas e retornaram as crianças às suas casas frente às ameaças. Ontem (02), centenas de moradores da cidade e o governador, César Pérez Vivas, participaram de uma marcha pacífica